quinta-feira, 21 de maio de 2015

Colocaram a cabeça a prêmio e agora?

Ontem eu tive o desprazer de receber uma notícia que muito me chocou. Sem entrar em maiores detalhes, posso dizer que o senpai foi acusado nas redes sociais por 3 anos de agressão a sua companheira, além de ameaça de homicídio e de viver as custas do trabalho dela por todos esses anos.

Primeiro que eu achei meio impossível de acreditar. E minha descrença se une com os demais que conheciam o senpai. Foi a reação inicial. Afinal, o senpai foi uma das pessoas mais gentis e educadas que eu já conheci, e pelo o que me consta, ser educado e gentil em nada se compara a ser legal. Para uma pessoa que defendia todas as frentes, que sempre esteve engajados nas lutas do movimento estudantil na faculdade e que vivia dizendo que eu deveria relaxar, é muito ter uma acusação dessas.

Meu lado de kouhai falou mais alto e após lembrar de tantas conversas, ficou claro que a pessoa narrada naquela acusação era um ser bem distinto do que eu tinha convivido na faculdade. Passou-e horas de pura descrença, pensando e pensando.

O senpai poderia mesmo ter feito isso? Eu fiquei me perguntando. Claro, isso somente pelo meu lado de amiga. Então a visão estendeu-se a tudo. Uma grave acusação de agressão doméstica foi feita num tumblr e a internet é um lugar muito (muito) grande.

Temos a narração com uma grande tendência a condenação do que a uma denúncia em si. E esse é o problema. É uma grave denuncia feita na internet. E então? Lá diz que o senpai fugiu para Minas. E tudo o que todos temos é apenas essa denuncia.

Então, como tenho pensando muito nisso e tenho muito carinho pelo senpai, eu resolvi fazer esse post para tirar essas coisas da minha mente. Não posso lidar com isso de forma pura, não porque eu não ache que o senpai fez isso, mas porque eu acredito piamente que é errado por isso nas redes sociais. Para esclarecer meus pensamentos para mim mesma, posso lidar com tópicos.

O senpai teria feito isso?
Não. Ele era uma pessoa gentil e educada.
Sim. Os Deuses sabem que maldade despertou/veio a tona/começou a existir nele para tal ato.


Saindo do figura do senpai, isso não quer dizer nada na verdade. A grande parte dos agressores tem comportamento amáveis com todos e são verdeiros demônios com suas companheiras. Os motivos são os mais variados: bebida, droga, sadismo, controle.
Como dizem: ninguém sabe como é dentro de 4 paredes porque cada um é um nesse momento.

Alguns agressores são tão agradáveis com as vítimas depois que elas acreditam que eles vão mudar, mas eles não mudam, Eles sempre voltam a agredir (ou a grande parte deles).

E a vítima?
Afinal, houve uma acusação e se há uma acusação, há uma vítima.
A descrição do que ela passou durante 3 anos foi de puro horror. Mas infelizmente, é uma descrição da vida de muitas mulheres.

Segundos estudos, a mulher fica com o homem agressor por dois motivos básicos (e eu estou simplificando tudo aqui): um é o amor. Ele é um ótimo cara quando não está me espancando. O amor deve superar essa fase ruim. Talvez eu tenha feito algo mesmo para merecer esse tapa. E meu filho? Não posso deixar meu marido por causa da minha criança.
O outro fator é o medo. O que vou fazer? Se eu denunciar, ele disse que me mata? E meu filho? Não posso deixá-lo aqui e não tenho para onde ir.
Além da grande tortura psicológica que essa mulher agredida sofre todos os dias por ter um companheiro violento, tem ainda o descaso da sociedade. Afinal, ninguém tem que meter a colher na relação dos outros, não é mais ou menos assim o ditado? Ela mereceu. Por que não foi embora? Devia ter ido embora, mas eu não ia ajudar ela porque eu não tenho nada a ver com isso.

Dado as especulativas, ninguém pode saber o que se resolveu desse caso em específico. Enfim, o caso sugere investigação e punição se confirmado a agressão. Como mulher, obviamente sou solidária as iguais a mim por entender a pressão que a sociedade machista exerce nas mulheres. Como cidadã, eu sei que é um abuso que as autoridades não possam tomar alguma medida. Não é raro os casos de mulheres assassinadas por ex/companheiros violentos, mesmo com a denúncia feita pela vítima. E em algum desses casos, vemos a punição para o assassino.

Postar na internet?
Bem, está ai o ponto que não posso concordar.

Minha experiência pessoal diz que não é nosso poder julgar ninguém. Qualquer um pode ser um assassino, um violentador, alguém ruim. Inclusive eu. Essa é a minha prerrogativa.
(além do mais, toda vez que julgo alguém, eu sofro algum tipo de acidente >.<' então, raramente o faço e quando o faço, eu trato de me retratar antes de falar algo para não ter as consequências da Lei Divina que estou sujeita)

A Internet é um lugar muito grande. As redes sociais tem tantos tentáculos que nem sendo criança você poderia imaginar uma quantidade dessas. Então, a acusação foi feita por um coletivo e postado no tumblr e teve o alcance no facebook, onde foi que recebi o link. Assim como eu, milhares de pessoas já devem ter lido e tirado suas próprias conclusões. E como dito, apesar de assinar como denúncia, era uma condenação.

E quem não conhece casos de boatos na internet que resultaram em linchamentos? As pessoas estão enervadas, um boato desses é tudo o que elas precisam para verdadeiras caçadas humanas. Casos de pessoas que foram acusadas de sequestrar crianças e que foram espancadas violentamente até a morte e o registro disso foi parar no youtube. Porque não basta participar da barbárie, vamos espalhar por ai e deixar claro que quero likes nisso.

Como minha amiga disse: isso é muita raiva.
É, é sim,

Justiça não deve ser confundida com vingança. Que sempre fique claro.

Como se não bastasse a gravidade de tudo, ainda colocaram esse post para ser debatido no amigável facebook. O que me deixou ainda mais perplexa é que as pessoas não leem as coisas, elas passam o olho por cima e concluem tudo. É o imediatismo da minha resposta em cima da sua, mesmo que eu não faça a menor ideia do que você escreveu.
Ah gente, dai não dá para acompanhar. O caso é grave, claro que é, então, mostrar sua surpresa é tido: você está desmerecendo a vítima. Você querer fatos a respeito disso é: você está desmerecendo as mulheres. Você estar chocado é: oi acorda, qualquer um pode ser um monstro.
E alguém disse isso mesmo? Alguém defendeu? Alguém disse que era mentira?
Quando a parte do linchamento entrou em discussão, eu li "mas ninguém quer isso". Você bota a foto dele na internet o acusando de atos hediondos contra uma mulher e acha que todo mundo vai ler e curtir? Que ninguém vai atrás dele com uma foice querendo beber o sangue dele? Confirmado ou não a agressão, isso pode acontecer, porque já aconteceu antes e ainda vai acontecer.

Lembrando novamente: justiça não é vingança. E nosso país já tem pena capital, então não se preocupe com os finais. Ainda mais com uma foto dessas circulando por ai.

Então, volto ao porque de escrever isso. Eu estava ficando louca. Claro que o senpai é meu amigo e eu estou odiando a acusação, mas não estou desmerecendo ela. Uma acusação desse calibre deve ser investigada porque senão fica como boataria na net - e isso não desmerece de forma alguma o testemunho da vítima, a vida é assim, não é porque eu falei que é verdade (no entanto, também não é mentira), precisa de uma investigação.
Se o senpai fez tais coisas, ele deve pagar. Mas não sou eu que vou aplicar a punição porque eu não tenho poder para isso. 
É mais um triste caso de violência doméstica, a cada 2 minutos uma mulher é agredida no Brasil. É um dado triste de uma realidade que fechamos os olhos. Nosso sistema falido, com instituições deixadas as traças, com, funcionários corruptos e mal pagos não vai mesmo resolver o problema da violência contra a mulher. O que é chegar em uma delegacia e denunciar uma agressão e ouvir que tem coisa melhor a ser feita do que resolver briga doméstica? Ou que ele estava de cabeça quente, por que não deixa para lá?
Não precisa ser próximo de nós para sabermos como é odioso tal atitude. Qualquer tipo de violência é odiosa.

Ao final, é apenas um desabafo, como se diz (e eu odeio usar essa expressão). A vida é assim: cheia de surpresas. Você nunca sabe o que virá a seguir.
Ao menos serve para reafirmar a máxima: você não conhece ninguém. E não conhece mesmo.

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