quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Aquelas coisas que você lembra do nada

Aquelas coisas que você lembra do nada, sabe? Do nada mesmo?

1. Ela era a mulher mais linda que eu conhecia. Talvez ainda seja. Comigo, fala como uma maloqueira, cheia de girias e xingamentos (oquei, eu falo com giria também, mas não assim). Dondoca, ou finge que é. Bem, nem ligo mais, nosso tempo de brincar na rua já tinha passado e agora eu a encontro umas 3x por ano. É sempre o mesmo assunto?
"E aí Lito? Beleza?" e eu respondo que sim, rindo. Deusa e eu ainda sou Lito. "Não vai sair pro Ano Novo? Sua mãe tá bem? Tá namorando?". Sempre a mesma coisa. Sei lá, ficamos melhor quando temos um apanhado da vida da pessoa que não temos mais contato mas que vamos chorar se morrer. "Trabalho pra burro, mas sabe como é... Tem que trabalhar. Aew, você viu né? Pintei de castanho. Namoro com o mesmo cara ainda."
As mesmas coisas. Mas a vida muda e lembro do tempo que estavamos jogados na rua pensando em bobagens "Quando crescer vou ter um carro" ela dizia e o meu noivo ria falando "E eu vou ter dinheiro e sucesso". Olhavam pra mim, que olhava com atenção pra eles. "E você Lito? Pensou em alguma coisa? Um carro? Casa você já tem...". Eu tenho certeza que ficava com aquele olhar sonhador e respondia algo como "arqueóloga".

2. Por que eu tenho um noivo? Porque tenho ue. Uma dessas coisas que surge do nada e que ficam assim pra sempre. Ele deve saber porque somos noivos, eu não lembro mais, mas sou noiva dele. Eu gosto dessas coisas de "noivas", sempre gostei. Se gostasse de fotos, teria virado modelo e me "especializava" nisso. Até que seria divertido... Eu e todos aqueles vestidos *empurra a Carolina Sonhadora pra dentro da porta de onde nunca deveria ter saído e passa o ferrolho*

3. Eu sentada na porta de casa, um dos raros dias que eu saio pra tomar sol. Digão passa, ia pegar o carro, senta pra conversar. A mesma conversa de sempre "Fazendo o que da vida Lito?", certas coisas nunca mudam e se mudarem ficam estranhas. Ele começa a rir, aquela risada que eu conhecia e já torcia os lábios pra o que ele falaria "Lembra de quando você namorava o Mominho?" e eu "Sim" e ele continuava, rindo muito "E por que você terminou mesmo com ele?" "Toda vez você pergunta isso... Você sabe porque!" E ele já chorando de rir (os Deuses sabem do que exatamente) "Terminou porque ele ficou careca... Lembra?". A graça daquela piada só existe pra ele, mas enfim... Não respondo, me limitando a um olhar de pura impaciência. "Você terminou porque ele cortou careca!". "Foi...". "Você não gosta de carecas Lito?". "Não" - isso é uma verdade.

4. Ele na porta de casa, contando de como odiava o pai. Nem lembro mais porque, mas sempre pedia por calma, ele queria era sentar a mão no pai dele e achar que era assim que se resolviam as coisas. "Não é, e você sabe disso Ed!". Pronto, a raiva passava e ele me contava como estava no serviço pra prefeitura "Você nem sabe amor, uns homens me param e fazem propostas". "Sério? Gatinho você heim?". Ele ria, o ego inflamado, não mudava nada. Então me olhava sério com os olhos verdes "Me oferecem uma boa grana pra comer eles... E eu estou pensando, se valer a pena...". "Tá zuando né?". "Não, falando sério, emprego de merda, isso dá dinheiro". "Pra ficar de quatro e traçar um homem?" dava de ombros e falava, abaixando o olhar "Fazer o quê? Posso sair com mulher mal-amada também...". Louco...

5. Não compensa comentar.

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