(Esse conto foi escrito como treinamento para o curso de escrita queer do Ninho de Escritores e foi “corrigido” durante uma das aulas. Agradeço ao lindos e lindas que fazem parte do curso por isso ♥ também publicado no Pena Mágica e no Legado da Escrita)
Ia pular. Uma queda de cinco
segundos. A água gelada daria conta de sua vida. Qual motivo tinha para viver?
Por que continuar dizendo que era um homem quando todos falavam que era uma
mulher? Por que ouviria as palavras ácidas de Beth dizendo que jamais ficariam
juntos?
— Não pule!
Virou a cabeça e viu um homem
sentado na mureta da ponte, as mãos enfiadas no casaco, os pés balançando. Ele
olhou para baixo, a água gelada corria com força. Ele era exatamente como Darci
queria ser.
— Ouvi dizer que uma pessoa pulou
numa noite como essa. Deixou tudo para trás. Doía demais aqui — O homem
virou-se e espalmou a mão no coração. — Não conseguia respirar. Queria ser
outra pessoa. Acredito que tudo pode mudar. Você é essa pessoa.
Não conseguia ver o homem direito,
sua visão estava marejada. Tinha posto a mão no coração também. Batia tão
lento, tão sem força. A dor sufocava, não conseguia respirar direito.
— Gostaria que não fizesse isso. Eu
amo o que você se tornou. Vamos ficar juntos, Darci. Apesar da dor, estaremos
juntos. Sempre.
Fechou os olhos para lutar contra as
lágrimas. Como amou aquelas palavras! “Eu vou esperar por você, não faça isso,
por favor” escutou a voz do homem bem próxima. Tranquilizante e calorosa. Quando
abriu os olhos, Darci estava ainda de pé em cima da mureta, a única alma por
ali. Gostaria de ter escutado antes aquelas palavras tão preciosas.
Lançou-se na direção do rio. Cinco
segundos e Darci abriu os olhos e teve a impressão de ver o homem olhando com
muita tristeza lá de cima. Aquele homem era Darci, mas notou tarde demais.
Bateu na água e sumiu.