sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Quando é que acaba mesmo?

Eu já esperei diversas ocasiões acabarem, contava os segundos, aborrecida, olhava o relógio e nenhum minuto tinha passado. Fazia tempo que não tinha essa sensação de estar presa a alguma coisa que realmente detesto ou de uma situação desconfortável. E como me sinto agora.

Mais algumas horas, eu falo a mim mesma, só mais algumas horas. Não parece ter fim. O final não chega, aquelas frases idiotas "chega o natal mas isso não acaba" fazem o sentido - e ainda continuam idiotas.

Quando não há mais energia, eu tento tirar de alguma coisa. Eles falaram para orar, que era uma boa maneira de se conectar as divindades e pedir por mais de muitas coisas que preciso apenas para não chutar alguma coisa, sugar a vida de alguém ou dar uma cadeirada em alguém.

Olho para fora e vejo um pássaro. A oração feita de qualquer jeito e com as minhas poucas forças, parece ter sido ouvida. Nunca me senti desprotegida ou longe das divindades, elas sempre estão comigo e trabalham comigo porque eu trabalho com elas. O pequeno pássaro passa rápido e por segundos, eu esqueço do horror que estou vivendo e contemplo o infinito.

Afinal, o que são minhas fraquezas e temores quando tudo é tão maior do que eu e do que eu possa pensar? Do que adianta sentir tanta raiva quando o mundo não pode ser movido por esses sentimentos? Realmente fez alguma diferença?

Então, o problema seria da sintonia. Eu tento ficar calma, ignorar tudo e respirar fundo. Se eu mudar a sintonia, talvez melhorem. É o que me falaram a vida inteira, então, lembro que não tenho mais a concentração que tinha antes, que me fazia viajar pelo infinito, a deriva do amor do universo, flutuando direto para os braços da Mãe Divina. Eu me esforço e nada acontece. Resultados não são tão rápidos para alguém tão incoerente.

Aquela garota de cabelos muito compridos veio ficar perto de mim. Ela parece tão serena em meio aquela confusão. Queria saber dos números que resumem o final de tudo - o final de alguma coisa, mas não do todo. Lembro que sorri um pouco.

Então, talvez tentar tenha válido a pena. Entre discussões, gritos,"só eu, por favor", "não é de deus", "não aguento mais", eu me vejo sentada, as mãos cruzadas na frente dos olhos, fechando os olhos e escutando o silêncio merecido. Demorou. Demorou uma vida para eu encontrar o silêncio no meio de tanto barulho, de tanta coisa, de tanta loucura.

Os segundos preciosos foram tirados e eu fui levada por outra onda de raiva. Não sou uma boa pessoa quando estou com fervendo de raiva. O primeiro sinal é que meu sadismo se torna ainda pior. Será que alguém fica bem quando tem raiva? Afinal, um pico alto desse sentimento e se pode encontrar forças para mudar as coisas. Nisso eu penso agora, na hora, nada fazia sentido.

Eu olhei para a cara dela e ri, mal suportando a mim mesma que poderia dizer dela? Porque isso e isso e isso. E eu olhando e pensando "o que essa estúpida está falando?". Jogar a culpa nos outros é fácil assim, mas não poderia me desculpar por algo que não fiz de errado, mas poderia pedir desculpas se era isso que ela queria ouvir e me deixar em paz. Foi o que eu fiz, murmurando um e leve isso com você e para longe de mim.

Aquela situação bem assim. As pessoas fazem as coisas com os recursos certos e vem falar que eu deveria ter visto que estava errado. Como poderia apontar um erro quando não vejo nenhum? Quando o que foi concluído não fazia o menor sentido? Quando todos estavam com os nervos a flor da pele, querendo apenas que tudo acabasse? Um após o outro, chegavam os problemas, eles também não teriam fim? Nada poderia ter fim? Se as coisas começam, elas devem terminar. Já dizia a Leilinha "tem começo, meio e fim" e como é que não vejo essa droga de final?

Então, fiquei no meu conflito pessoal de ser uma boa pessoa contra a minha terrível personalidade que falava "para que isso?". Uma situação ingrata foi criada por causa desse erro e pensei na possibilidade de adiar meu fim para dar lugar a mais sofrimento. A paz havia sumido e nem era lembrada, foi como se não tivesse existido. Tudo estava tão negro e doloroso. Quando fui questionada novamente sobre a situação, apenas respondi com meu pior lado "não me interessa mais, eu vou embora".

E quando estava indo, encontrei um dos meus favoritos. Não me importa o que digam dele, todas as coisas e todos os avisos que recebo por seu comportamento desvairado. Eu gosto dele e é simples assim. E ele sabe disso, porque eu falei seriamente uma vez, sobre um evento sinistro ocorrido, e ele sabe que sou sincera com ele. Eu não fui dura, estava tão esgotada que não tinha forças para ficar em pé, ele evitou me olhar porque eu sabia que sentia vergonha. Não lembro o que conversamos, as palavras fugiam da minha mente logo depois que proferidas, mas lembro de ter dito que acreditava que ele era uma pessoa melhor, que podia ser bem melhor. Eu achei que ele ia chorar, o mesmo sentimento que senti minutos atrás, quando sentimos que vamos nos partir em milhares de pedaços porque o peso do céu vai cair sobre nós - talvez Atlas não consiga segurar para sempre, vai saber?

Eu acho que sorri. Não sei. Ele limpou as lágrimas. Eu gosto dele, mas não posso fazer mais nada por ele. As coisas seguem de seu jeito, desejarei o melhor sempre, porque esse será de verdade e espero que tudo acabe bem - por que desejar outra coisa?

Quis correr para dentro do ônibus e fugir para alguma galáxia distante. Infelizmente, não foi isso que aconteceu e achei que ia direto para os braços do Barqueiro quando tive um acesso de tosse. Achei que ia cuspir um pulmão, ou talvez um pedaço da garganta. Bem feito, por pensar tão mal de tudo e desejar o mal a todos com tanta força. As leis divinas que eu tanto acredito, se aplicam com tanta rapidez e violência. Não posso ser uma pessoa tão dissimulada como era antes, existe ainda um restante de decência.

Foi isso.
Não o fim, o fim ele não chega. Só mais algumas horas. Só mais alguns minutos. Tudo volta a se repetir. outros protagonistas em cena, outro cenário curto dentro da mesma estrutura.

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Quando um colega chora...

Queria ter escrito mais antes. Não sei, fiquei com preguiça. A vida não estava seguindo de forma coerente, mas agora, penso que talvez não siga mesmo - e eu sempre sou muito controladora. De qualquer modo, apesar do que eu possa achar sobre como a vida deveria seguir, vou escrever como ela seguiu.

Não é novidade que sou professora e que já fiz algumas postagens singelas sobre a vida de professor. Acho muito fácil vir pai e falar mal, muito fácil vir gente e falar mal, difícil mesmo é admitir que não educou o filho e que o filhinho querido da mamãe é perseguido. Tudo bem, acho que já me queixei com todos sobre isso e recebi as mais diversas respostas sobre o que é mais fácil lidar do que admitir.

Eu poderia descrever alguns dos casos que tenho observado na escola, mas ao menos tempo, sinto certa ética para não fazê-los. Quem se importaria? As pessoas não gostam de ver certas coisas publicadas, ainda mais quando a questão é deles. Quem sabe eu consiga escrever sobre isso. Mas o que vim escrever é algo próximo a isso.

Não é a primeira vez que vejo uma professora chegar na sala dos professores, jogando o material e chorando. Isso não deveria acontecer, mas acontece.

A primeira professora foi presa dentro da sala de aula por alunos que acharam que podiam verificar a mochila dos outros atrás de um celular supostamente roubado. O que a escola fez a respeito do roubo do celular? Nada (por razões que não compensam ser ditas). Por essa razão, os alunos se juntaram para eles mesmos fazerem a investigação. Com isso, trancaram a sala com a professora e começaram a inspeção. A professora conseguiu sair porque ligou para um dos professores que fica na secretária e ele subiu para ajudá-la.

Na ocasião, eu estava na sala do lado e me lembro que fiquei até um pouco mais, arrumando o diário. Quando eu sai, eu não olhei para os dois lados - coisa que geralmente faço porque os alunos podem estar fazendo coisas que não devem, mas eu sai e não olhei. Quando a professora chegou, eu fiquei surpresa e exasperada pelo o que tinha acontecido. E também achei que a professora ia ter um troço, um ataque, sei lá.

Outro caso foi que uma aluna ameaçou a professora e queria bater nela. Tudo porque a professora pediu que a aluna fizesse o exercício e a criatura começou a xingar a professora, e depois quis agredi-la. Esse caso eu somente escutei as reclamações da professora em questão durante uma reunião e depois soube do estado de pânico que ela ficou na ocasião.

E ontem, outro caso. Lá estava eu, na sala dos professores, corrigindo o provão, quando a professora chegou, jogando o material e chorando sem parar. Um professor que estava comigo soube logo o que estava acontecendo e subiu para a sala e eu fiquei ali com ela, vendo os ombros sacudirem, ela protestar de tanto esforço e tanto carinho pela profissão, para receber uma chuva de bolas de papel e o fichário nas costas, enquanto ela passava a prova dela na lousa.

Um absurdo ver um docente naquele estado. E a forma que ela falava, a paixão pela profissão e para quê? Para sofrer violência física na sala de aula? Para ficar ouvindo os alunos xingando? Um bando de adolescentes mal criados.

Obviamente, a violência dentro da escola contra o profissional, ninguém se importa. Os alunos podem fazer o que bem quiserem - e muito deles o fazem. E de quem é a culpa no final? Dos gestores? Dos professores? Dos alunos? Da Educação? Da Sociedade? Eu sempre me faço essas perguntas e até posso responder por alguns dos lados,  mas as respostas não convencem e não são suficientes. Não sei porque penso nisso também, essa minha maldita coisa de querer racionalizar tudo e tentar achar soluções para as coisas. E quem se importa com isso afinal? Ninguém... Pois é.

Ao final, é somente uma forma de extravasar minha frustração.