quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Quando um colega chora...

Queria ter escrito mais antes. Não sei, fiquei com preguiça. A vida não estava seguindo de forma coerente, mas agora, penso que talvez não siga mesmo - e eu sempre sou muito controladora. De qualquer modo, apesar do que eu possa achar sobre como a vida deveria seguir, vou escrever como ela seguiu.

Não é novidade que sou professora e que já fiz algumas postagens singelas sobre a vida de professor. Acho muito fácil vir pai e falar mal, muito fácil vir gente e falar mal, difícil mesmo é admitir que não educou o filho e que o filhinho querido da mamãe é perseguido. Tudo bem, acho que já me queixei com todos sobre isso e recebi as mais diversas respostas sobre o que é mais fácil lidar do que admitir.

Eu poderia descrever alguns dos casos que tenho observado na escola, mas ao menos tempo, sinto certa ética para não fazê-los. Quem se importaria? As pessoas não gostam de ver certas coisas publicadas, ainda mais quando a questão é deles. Quem sabe eu consiga escrever sobre isso. Mas o que vim escrever é algo próximo a isso.

Não é a primeira vez que vejo uma professora chegar na sala dos professores, jogando o material e chorando. Isso não deveria acontecer, mas acontece.

A primeira professora foi presa dentro da sala de aula por alunos que acharam que podiam verificar a mochila dos outros atrás de um celular supostamente roubado. O que a escola fez a respeito do roubo do celular? Nada (por razões que não compensam ser ditas). Por essa razão, os alunos se juntaram para eles mesmos fazerem a investigação. Com isso, trancaram a sala com a professora e começaram a inspeção. A professora conseguiu sair porque ligou para um dos professores que fica na secretária e ele subiu para ajudá-la.

Na ocasião, eu estava na sala do lado e me lembro que fiquei até um pouco mais, arrumando o diário. Quando eu sai, eu não olhei para os dois lados - coisa que geralmente faço porque os alunos podem estar fazendo coisas que não devem, mas eu sai e não olhei. Quando a professora chegou, eu fiquei surpresa e exasperada pelo o que tinha acontecido. E também achei que a professora ia ter um troço, um ataque, sei lá.

Outro caso foi que uma aluna ameaçou a professora e queria bater nela. Tudo porque a professora pediu que a aluna fizesse o exercício e a criatura começou a xingar a professora, e depois quis agredi-la. Esse caso eu somente escutei as reclamações da professora em questão durante uma reunião e depois soube do estado de pânico que ela ficou na ocasião.

E ontem, outro caso. Lá estava eu, na sala dos professores, corrigindo o provão, quando a professora chegou, jogando o material e chorando sem parar. Um professor que estava comigo soube logo o que estava acontecendo e subiu para a sala e eu fiquei ali com ela, vendo os ombros sacudirem, ela protestar de tanto esforço e tanto carinho pela profissão, para receber uma chuva de bolas de papel e o fichário nas costas, enquanto ela passava a prova dela na lousa.

Um absurdo ver um docente naquele estado. E a forma que ela falava, a paixão pela profissão e para quê? Para sofrer violência física na sala de aula? Para ficar ouvindo os alunos xingando? Um bando de adolescentes mal criados.

Obviamente, a violência dentro da escola contra o profissional, ninguém se importa. Os alunos podem fazer o que bem quiserem - e muito deles o fazem. E de quem é a culpa no final? Dos gestores? Dos professores? Dos alunos? Da Educação? Da Sociedade? Eu sempre me faço essas perguntas e até posso responder por alguns dos lados,  mas as respostas não convencem e não são suficientes. Não sei porque penso nisso também, essa minha maldita coisa de querer racionalizar tudo e tentar achar soluções para as coisas. E quem se importa com isso afinal? Ninguém... Pois é.

Ao final, é somente uma forma de extravasar minha frustração.

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