terça-feira, 2 de setembro de 2014

Educação para quem?

O que fazer?

Iniciar uma postagem com uma pergunta como essa, já sugere que estou perdida em relação a isso. Quando comecei a escrever essa postagem, abri arquivos de pdfs e parâmetros curriculares para apoiar o que iria escrever.

Hoje, finalmente, entendi que o menino que senta com a mesa colada na do professor não faz os exercícios por um motivo bem simples: ele não sabe ler ou escrever. Ele mesmo me relevou isso e quando mostrou o caderno e as tentativas dos professores de ajudá-lo a decifrar as letras, eu pensei que as coisas na escola estavam bem piores do que eu supunha - e eu joguei o pensamento lá embaixo e é pior do que isso.

Eu disse a ele que iria tentar ajudá-lo, que iria passar exercícios e tudo mais. Perguntei como ele havia chegado a 6ª série sem saber o básico e ele respondeu: foram me passando. Ele deu um sorriso sem graça, acho que ficou constrangido com a cara que eu fiz ao ouvir isso. Foram me passando? Verdade?

A despeito das políticas educacionais e de todo um histórico de achismo por parte do público em geral, essa ideia de não reprovação era algo antigo e foi instaurada. A princípio porque iria ajudar o aluno, em seguida ou imediatamente, porque era bom não repetir mais ninguém, a máquina ia continuar funcionando e os alunos iam perdendo a qualidade de ensino conforme os anos.

O que acontece com esse aluno que passou sem saber o conteúdo? Ele vai continuar assim. Pressupõe-se que você saiba conceitos para continuar as matérias e seu aprofundamento em certos temas. Se esse aluno foi aprovado pela máquina do governo, como é que se espera que ele entenda os novos conteúdos se ele falha no básico?

Pior do que mais errado é a insistência do governo em manter algo que não funciona. A estrutura arcaica do ensino não está ajudando docente ou aluno. A estrutura da escola não ajuda também. Os prédios não ajudam. Uma série de fatores que posso listar rasamente diz muito a respeito do porque não funciona.

Tendo o caso desse aluno como exemplo, ele disse o que eu sabia. Eu sei o porque dele estar na 6ª série sem saber o básico do básico. Ele não repete. Ele, como criança, não se importa, quanto antes sair da escola, melhor. Ele, como cidadão consciente, não existe. O que vamos deixar para a sociedade do futuro, se esse garoto é apenas um exemplo de algo tão comum?

A aprovação automática é ruim. Os conteúdos são ruins. É esperado que os alunos saibam coisas somente para o vestibular e nada mais. E para quê? Quanto é a taxa de aprovação em faculdades sérias e de abandono de curso? Existe todo um sistema errado e que funciona para propósitos claros, nenhum deles inclui educação de qualidade ou cidadãos decentes (porque se incluíssem, teríamos "ética" e "política" para as crianças).

É o total e severo o abandono em uma instituição que forma outras profissões. Claramente visto no salário ridículo pago aos professores.

Eu não gosto de escrever sobre essas coisas porque é mais do mesmo. Sou professora de História, no meu curso, eu não tive alfabetização de crianças... Então, a pergunta continua: o que fazer com esse garoto? Que se vire que não é problema meu? Tentar dar alguma lição sem o menor conhecimento de como isso pode ajudá-lo de fato? Esquecer que tem mais 40 alunos na sala e que cada um deles está num tempo diferente e que isso causa conflitos de interesses? Falar para a mãe 'o que espera que eu faça? eu não sei ajudar seu filho'?

Ideias foram jogadas. E não sei o que fazer com elas. A pergunta continua: O que fazer?

2 comentários:

Marinuba disse...

Ótimo post Nymus. Infelizmente é assim mesmo, e nos sentimos totalmente impotentes ao ver esse tipo de descaso.
Os pais acham que é dever da escola não só ensinar, mas educar os seus filhos. A escola não consegue nem cumprir com a própria função, muito menos com a responsabilidade que depositam sobre ela.
É assustador...

Claragar de Forester disse...

Saudações sarracênicas, Nymus.

Eu imagino a situação e concordo com a Marinuba no que diz respeito aos pais.
Imagine como será a geração na qual esses "alunos" serão pais, que não tiveram cobrança e não compreenderam sequer dar valor aos estudos de nível fundamental e médio.
Estou cursando um curso técnico e vejo isso nos meus colegas de classe mais jovens (~16): metade não está nem aí pra aula, e em 3 semestres sairão com um diploma de técnico em edificações (sim, são os caras que vão construir casas....). Que valor terá a formação técnica em poucos anos? Tá foda...